O João, do blogue E os filhos dos outros convidou-me para escrever um texto sobre birras. Confesso que agradeci o empurrão - já tinha começado o texto mas estava constantemente a adiá-lo.
Aqui está ele, publicado na semana passada lá no 'estaminé' onde é ele que manda :)
Com muita frequência os pais falam-me, com preocupação ou
sentimento de impotência, acerca das birras dos filhos.
Com muita frequência usam expressões como ‘ele está a testar-me’, ‘ele sabe o que me tira do sério’, ‘é impressionante, com o avô não faz ele isso’.
E é curioso como estas frases são mais frequentes em pais de
crianças com filhos entre os 18 meses e os 5 anos.
E perguntam-me depois ‘o
que é que eu faço nestas situações?’
Então vou contar-te o que eu sei.
Eu sei que, na maior parte das vezes eles não estão nem aí
para o ‘desafio’, o ‘teste’ ou a ‘provoção’.
Não?, perguntas tu? E eu respondo-te que ‘não’, e passo a
explicar.
As vulgares birras, e choros e ‘os cinco minutos’ do teu
filho são o reflexo de uma frustração qualquer. Ou ele não consegue encaixar as
peças dos legos, ou ele quer continuar a brincar na piscina em vez de ir embora
para casa, ou bem que ele quer, porque quer ir de havaianas para o colégio em
vez de galochas. Ele quer isso, ele acha que pode. Tu não deixas. Ele chora, grita,
mostra a frustração dele, o descontentamento. Num mundo ideal tudo seria
possível. Como não há mundo assim, essa é a forma que ele arranja [e todos
eles] para mostrar o desagrado.
Até aqui tudo certo, é fácil e lógico de entender.
Agora vamos pegar num caso concreto.
Agora vamos pegar num caso concreto.
Hoje decides ir com o teu filho ao supermercado. São as
promoções do Natal, está tudo a 50%. Dizes-lhe que vais só entrar, levar o
detergente para a loiça e o pacote de guardanapos que está a faltar lá em casa.
Dizes-lhe que não vais levar mais nada e ‘temos
mesmo de fazer isto a correr, não vou comprar mais nada, não vale a pena
pedires ou estares com coisas. ’. E passas a correr pelos corredores que
transbordam de caixas cheias de bonecos. Ele quer ver. Tu continuas. Como ele
até está calmo, aproveitas para levar mais uns bifes de frango, iogurtes para
os lanches e um garrafão de água. E ele começa a ficar chato, birrento. Começa
a dizer-te que quer as bolachas do mickey, depois já quer a escova de dentes do
homem-aranha e agora quer o dentífrico do cars. Tu percebes que tens de ir
embora mas pensas até podias levar mais uns ovos e um saco de arroz, afinal de
contas é num instante. Mas ele diz que ‘preciso
mesmo da escova do mickey porque a minha já é velha’. E tu dizes ‘pronto, pega lá mas é a última coisa que
pedes caso contrário vamos já embora.’
O que é que ensinaste? Ensinaste a testar limites.
Como assim?, perguntas tu.
Disseste que não valia a pena pedir nada.
Ele pediu 3 ou 4 vezes. Tu deste.
Ele percebeu que quando insiste obtém o que quer.
Da próxima vez vai repetir o comportamento. Simplesmente
repetir.
Não é um teste, não é uma provocação. É, simplesmente, a
repetição de um comportamento.
E isto leva-me à questão dos castigos. Tantas e tantas vezes
castigamos os nossos filhos por sentirmos que eles estão a ‘esticarem-se’
[quando tantas vezes fomos nós que os baralhámos, não é? ].
Vamos lá de novo pegar num exemplo concreto.
Vais ao supermercado, o teu filho começa a dificultar-te a
tarefa e tu pedes que se acalme e se comporte. Ele continua e tu dizes-lhe que
caso continue naquilo, da próxima vez não vai contigo.
E ele continua e tu fazes o que tens a fazer e sais exaust@
desse supermercado.
Dali a dois ou três dias decides ir ao supermercado. Ele diz
que vai contigo. E tu dizes-lhe que não. Relembras a conversa e lembras que foi
ele que decidiu que desta vez não iria contigo [afinal de contas tu deste-lhe a
escolher]. E ele chora e diz que se vai portar bem.
A tua decisão [de o levares, ou não] pode ser estruturante e
constructora. É uma situação do dia-a-dia e tu tens na mão a possibilidade de retirar
o sofrimento/tristeza/frustração do teu filho. E de ti também porque afinal sabes
que pode estar a sofrer/triste/frustrado.
Esta tua decisão tem mais impacto do que um castigo
proferido dois dias antes como um ‘então
quando chegarmos ficas sem ver o Panda’. Isto porque a situação do
supermercado nada tem a ver com o Panda. E um castigo mostra que os grandes têm
poder – mas não lhe ensina, directamente, a consequência do comportamento e a
responsabilidade que ele tem nas decisões que toma.
Quando decides que não o vais levar estás a trabalhar no
futuro, também. Da próxima vez, ele vai lembrar-se que ele tem em si o poder de
1)
decidir o comportamento dele
2)
decidir o futuro
3)
tomar uma decisão em consciência porque sabe que
a mãe/pai faz bater a bota com a
perdigota e não tem de ser má ou sentir-se mal porque vai ter de aplicar um
castigo... O que vai acontecer é que ele é que vai escolher. E a escolha é só dele,
capisce?
Fácil, não é? Nop! É mesmo muito difícil, sobretudo quando
tens de fazê-lo cumprir uma consequência 2 dias depois e quando ele até se anda
a portar bem. Asseguro-te que é muito mais duro para ti do que para ele. Ainda
assim, esta decisão e atitude é muito mais coerente, justa e ensina muito mais.
E quando é justo, eles aceitam a autoridade dos pais.
Este post retrata exactamente a forma de educar cá de casa :).
ResponderEliminarTens tanta razão e eu contra mim falo que algumas vezes me vejo a cair no erro de ceder e depois lá tenho a minha consciência, o Sr. Meu Marido :), a dar-me cabe do juízo e com toda a razão.
Sem sombra de dúvida que esta forma de educar resulta e por cá o pequeno insiste mais comigo do que com o pai, pois já sabe que se o pai diz não, é não! :)
:-*
Tal e qual! Depois ainda tenho a lata de dizer ao meu marido, mas como é que consegues ser tão duro?! E no fundo ele é que está correto e eu tenho consciência disso. Ela comigo abusa e testa todos os meus limites porque basta depois um abraço e um comportamento mais doce e já me derreto toda. Isto é mesmo difícil, gerir lógica com emoções é muito complicado.
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